Repostando mais um texto maravilhoso da Ana Suy Sesarino, do Blog Significantes.Vale a pena a visita.
A luta do luto.
A gente vive. Algo acontece, e de repente, estamos aqui nesse mundo. Mas acontece que, além de viver, a gente tem que viver suportando a falta de sentidos da vida. Tem-se que viver, sem saber por que, e nem pra que.
E então a gente aprende que tem que trilhar um caminho para ser feliz. Acontece, então, que se queremos vida longa, teremos um caminho longo.
E aí a gente escolhe o caminho que é mais bonito, e geralmente, mais trabalhoso. Pegar um atalho comum e vazio, aquele que todo mundo pega, não tem a menor graça.
Aí acontece que vez ou outra, a gente se apaixona pelo caminho. O perigo de se apaixonar pelo caminho é que já não importa mais para onde vamos. A delícia de se apaixonar pelo caminho é poder ter alegria antes de se alcançar a tal “meta”.
Pois sabemos que viver é uma aposta no vazio, que se faz sem garantias. Não há garantia de amor, felicidade, fidelidade, tardes de domingo felizes, ou sábados a noite animados. Aliás, nem garantia de vida, há. Nem da nossa, nem das pessoas que amamos.
O fato é que volta meia a gente morre. Sério. Pessoas vivem morrendo. Morrem de amor, morrem de ódio, morrem de irritação, de tédio, de chorar, de rir, de falta de esperança, de esperança nascendo... morre-se. O bom mesmo é morrer e continuar vivendo.
Disse Clarice Lispector, por Macabéa, que todo mundo precisa de uma mortezinha de vez em quando. (não vou citar página nem usar aspas porque estou lembrando de cabeça – talvez nem seja isso que ela tenha dito, mas gosto dessa lembrança que tenho).
Mas o fato é que me parece verdade. A vida é feita de vários lutos, os quais a gente vai elaborando enquanto vive. Luto da perda do útero, luto da perda do seio da mãe, luto pela perda do lugar de filho único, luto pela perda do corpo infantil, luto pelo desencantamento com o mundo, luta pela perda do amor (que nem existia) do fulaninho, luto pela perda da escola, pela perda da faculdade, pela perda da amiga, pela perda do outro amor...e por aí vai.
A vida é uma soma de perdas, uma soma de lutos, que quase se emendam. E entre um luto e outro, há a possibilidade de ser feliz. Aí a gente tem que agarrar esses momentos com unhas e dentes, porque logo escapam. Porque tudo nos escapa. A alegria, o amor, e até as perdas! Perdemos as perdas? Ufa.
Ana Suy Sesarino