Segue mais um texto que li hoje, com o qual me identifiquei muito.
Espero que gostem e visitem o local de origem. (aqui)
Bjs
Beth
Nasceu só. Quando pequena, fantasiava que tinha uma irmã gêmea, perdida pelo mundo. Tinha esperanças de um dia encontrá-la, e descobrir que não tinha nascido sozinha, que era metade de alguém.
Era asmática. A única na família. Ninguém, além dela, sabia como era angustiante querer o ar para dentro de si, e só tê-lo fora.
Cresceu só. As coisas que lia eram só dela, as coisas que aprendia na escola eram só dela. Tentava compartilhar o seu saber com um e com outro, mas o que ela falava nunca era aquilo que era queria dizer.
Ganhou curvas em um corpo de mulher, que ela não pedira. As pessoas lhe parabenizavam por seu corpo crescido, mas ela continuava sozinha ali dentro. As roupas que vestia eram apenas sua, assim como as suas dores. Para distrair, compartilhava o guarda-roupas com as amigas.
Apaixonou-se só. O moço amado sequer soube de seu afeto por ele. Então, o coração batia em dobro, por ela e pelo moço. Mas a taquicardia era apenas dela, assim como a asma.
Desapaixonou-se. Um dia, o seu coração cansou de bater pelo outro. Voltou a ritmo de coração solitário. Ela duvidou de seus sentimentos. Descobriu que quando a paixão passa, parece que não existiu. Como tinha vivido aquilo sozinha, não tinha como saber se tinha sido verdadeiro.
Apaixonou-se por outro rapaz. Soube que o rapaz a amava também. E então, pensou que, enfim, não estava só. Tinha um par de olhos brilhantes a testemunhar a sua existência. A sua taquicardia tinha, enfim, um guardião. Via-se não no espelho, mas no ponto de luz da retina dos olhos do rapaz que a olhava. Pôde, enfim, tomar ar em seus pulmões.
Descobriu que o rapaz não gostava de ler as mesmas coisas que ela. Não entendia as coisas que ela sentia. Estava só, ainda, com as suas roupas, com os seus pensamentos, com o seu corpo, com a sua asma. As vezes, tinha taquicardia e era bom. As vezes, o ar lhe faltava, e não sendo asma, era bom. As vezes, sentia o outro corpo como se fosse o dela, e era bom. E, as vezes, a solidão lhe era boa companhia. Descobriu que viver não tem cura, o amor é paliativo.
http://significantess.blogspot.com/