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segunda-feira, 18 de julho de 2011

22 segundos antes do beijo.


Fechei os olhos.

A vontade de hesitar é a mesma que a de fazer. Muita coisa pode acontecer antes dos lábios dele tocarem os meus, vinte e dois segundos que sucedem esse beijo faz o planeta Terra aparecer um feto. No olhar dele eu encontro a eternidade. No olhar dele eu encontro meu chão, meu céu, meu ar. Não importa o que aconteça, eu não consigo tirar meus olhos de você.
17 segundos.

Tem tanta coisa que eu quero te dizer, mas agora eu não preciso. Ele está se aproximando. Eu sinto a respiração que cambaleia entre os centímetros que nos separa. Ele está dando aquele sorriso torto, e eu não consigo pensar em mais nada. Cada pedaço dele está em minha mente. Vejo em câmera lenta todos os meses de espera por esse beijo, escuto todas as músicas que ele cantou para mim, embora eu sempre precisasse adivinhar o que ele sentia.
9 segundos.

Não importa o dia e nem as horas, eu trocaria a eternidade por um beijo seu. Você disse o que eu mais queria ouvir, mas será que foi a tempo? O que vai acontecer depois que seus lábios deitarem sobre os meus? Porque é você e eu, e todas as outras pessoas. Não importa o que escolhemos, não importa o que seremos e não importa o que perdemos. Importa o que sentimos.
2 segundos.

Você não sabe o que foi aquele beijo. Nem eu. Havia em seus olhos uma multidão de milhares de pequenos bons momentos - momentos nossos, noites de pouco sono, pensamentos soltos e o amor sentado escutando tudo, ouvindo a gente -, de repente, parou instantes para olhar. Para me olhar. Empurrei os seus olhos com os meus e ouvi o silêncio dos seus pensamentos, já não sabendo se aquilo que eu pensava era meu ou se era dele porque olhar nos olhos de um estranho freqüentador de meus sonhos é se deixar espiar por estrelas. Como se aquilo que eu pensava também já fosse tarde demais, meus pensamentos sugados pelos olhos do dele. Havia naqueles olhos uma correria inútil de tampar segredos e eu soube de todos eles, não por meio de palavras, mas por meio de silêncios. Eu soube que apesar dele não saber o que queria, sabia que o lugar dele era aqui. Eu nunca soube decifrar silêncios, mas posso tocá-lo com a ponta dos dedos. Assim eles ficaram, os segredos daquele olhar, no canto das coisas que eu pensava e pensava, antes de aproximar os meus lábios. Você não sabe o que foi aquele olhar. Os olhos dele eu nunca mais vi, não eram os olhos que me fitaram, de maneira fugidia, como na primeira vez. Eram olhos que guardavam perguntas inocentes, que guardavam palavras não ditas, que guardavam uma proteção e uma paixão, e eu quase arrumei de volta os seus cabelos, abotoei a sua camisa e perguntei se ele me olharia assim de novo se eu ficasse cega. Ele me ama.
Sorrisos são pontes que se abrem no rosto para o outro poder passar. E só por conta daquele sorriso eu atravessei a distância entre o meu rosto e o dele para encostar os meus lábios aos seus novamente. Meus lábios tinham gosto de sorvete. E os dele tinham meu gosto.

6 horas da manhã.
Abri os olhos. Ele nunca esteve aqui, mas meus lábios ainda sentiam os dele.

LUARA QUARESMA

sexta-feira, 15 de julho de 2011



O que vale a pena possuir, vale a pena esperar.


Caio Fernando Abreu
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